segunda-feira, 18 de julho de 2011

As leituras infantis e a desinformação.


         Minha neta ganhou um livro e veio toda orgulhosa me mostrar, vi o titulo e achei muito interessante, ( A lenda da Pemba ) de autoria de “ Márcia Regina da Silva” e editado por Larousse Junior.
         Vejamos, tenho lutado pela informação das culturas africanas instaladas no Brasil e em particular pelas tradições chamadas Bantu ou vindas do sul da África, genericamente denominadas de Angola/Congo e ao ver o titulo fiquei entusiasmado na primeira oportunidade o li com cuidado, aja visto que deveria ser um perola colhida pela autora com algum ancião dessa tradição. Desde a década de 90 alguns movimentos de recuperação dessa cultura tem pululado em Sp, Rj e Bahia, porem o mais velho parte de Sp, liderado por tradicionalistas dessas culturas e religiões, entre eles eu mesmo tenho buscado através de contatos em Portugal, Angola e Cuba livros em geral que nos auxilie na recuperação dessas tradições tão caras a muitos religiosos, Tatas, Kotas,Makotas etc.
         Voltando ao livro, li e meu entusiasmo virou insatisfação e de certa forma revolta com a autora, narro aqui uma parte do livro e o motivo deste artigo:
“Porem, nada adiantou e, na esperança de sentir novamente o calor do amor em seu coração, foi banhar-se no rio sagrado. (Orumila) divindade responsável pelo portal do destino apiedou-se de Mipemba e ordenou que os ancestrais protetores do reino a recolhessem”
         A autora a meu ver totalmente desinformada mistura dois universos antagônicos, duas culturas, duas cosmogonias divergentes, BANTU e YORUBA, a autora introduz Orunmila no universo Angola/Congo desprezando N`Gombo, divindade tutelar dos oráculos desta tradição. Um fato nos chama atenção sobremaneira, a titulação da autora, Mestre em comunicação e Semiótica pela PUC e o mais grave a meu ver , relata que ouviu muitas lendas ao pé “D`ouvido”  de sua mãe aos finais de tarde.
         Cara senhora Márcia, não duvido de suas historias porem levando em consideração sua titulação, seria de esperar no mínimo uma pesquisa decente sobre as lendas ouvidas de sua senhora progenitora.
         Que não me ouçam a Prof. Dra. Josildeth, a Prof. Dr. Terezinha Bernardo entre outras a quem tenho muito apreço e que talvez pudessem auxiliá-la a no que publica, notadamente em se tratando de algo dirigido a crianças, seu livro apenas insufla uma nova geração de crianças que verão o universo Yoruba como superior ao Bantu que por sua vez não tem como justificar os atos de suas deidades nos mitos.
         “Apesar de tudo recomendo o livro com as devidas reservas”.  Seria de bom alvitre que a editora Larousse antes de publicar obras dirigidas ao publico infantil, notadamente na área das culturas africanas, não leva-se em conta a titularidade da autora, mas sim seu currículo no que tange a pesquisas na área, e mantivesse um expert ou consultor sobre o tema.
OBS: Eu também não sabia mas achei que deveria ter uma deidade correlata, portanto consultei minhas fontes e achei (N`Gonbo), segundo o Tata Walmir Damasceno ( Tata Katu Vangesi) é o similar a Orunmila.

                                                Oga Gilberto de Esu

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